ROSA
– Bom dia, dia! Bom dia, Sol! Que lindo dia para encontrar um belo namorado.
Tomara que aquele Lírio lindo passe por aqui hoje! Tenho certeza que hoje ele
vai me notar, pois estou mais bonita do que os outros dias. E se ele olhar pra
mim… Aaaaaaiiii… acho que vou desmaiar de emoção!
ENTRA EM CENA O CRAVO.
SIMPLES, SEM GRAÇA, UM CAIPIRA. TRAZ UM VIOLÃO.
CRAVO – Bão dia,
minha princesa!
ROSA
– Estava um bom dia…. Até você aparecer por aqui.
CRAVO – Mas, ocê
tá uma belezura hoje, hein?
ROSA
– Você não tem outro lugar pra ir não?
CRAVO – Que
lugar desse jardim todo eu vô achá uma Rosa mais linda que ocê?
ROSA
– Larga do meu pé, chulé!
CRAVO – Só largo
do seu pé quando ocê aceitá namorá com eu?
ROSA
– Não é: namorar com eu! É namorar comigo!
CRAVO – Inton,
ocê aceita?
ROSA
– Claro que não! Já falei que não quero nada com você. Se você quiser, posso
até ser sua amiga. Mas, só!
CRAVO – Fiz até
uma moda pr’ocê. Iscuita só!
CRAVO DEDILHA UM ACORDO
SERTANEJO NO VIOLÃO.
ROSA
– Pode parar, pode parar, pode parar! Eu odeio a sua cantoria. Agora me dá
licença que está quase na hora do meu futuro namorado passar por aqui.
CRAVO – Mas, o seu
namorado já táqui. Oia só!
FAZ POSE DE FORTÃO E ESBOÇA UM
OLHAR SEDUTOR.
CRAVO – Não sou
uma beleza?
ROSA
– Você é um chato, isso sim! Agora vai procurar a Margarida, vai! Quem sabe ela
não te dá bola? Pois o meu negócio é com o Lírio! Ele sim, é lindo, elegante,
perfumado.
CRAVO – Ih, tá
me chamando de fedido?
O CRAVO SE CHEIRA. FAZ MENÇÃO
DE SE SENTIR FEDIDO.
ROSA
– (RINDO) Viu só! Até você não aguenta o seu cheiro.
CRAVO – Oia
aqui, sua… sua… Qué sabê de uma coisa? Eu num quero mais sabe de ocê. E fica aí
mesmo esperando aquele almofadinha do Lírio, fica!
ROSA
– Fico mesmo, tá?
CRAVO – Vai ficá
esperando e vai até cansá!
ROSA
– Quem disse que eu vou cansar?
CRAVO – Quem
disse que o Lírio vai te dá bola?
ROSA
– Eu sou a Rosa, a mais bela do jardim!
CRAVO – Seu eu
fosse ocê, aceitava logo namorá com eu!
ROSA
– Já falei que não é com eu! É comigo! É comigo! E o Lírio, vai sim querer
namorar comigo, tá?
CRAVO – Intão ta
bão! Quero vê quando ocê ficá véia, feia, murcha, sozinha e toda despetalada?
Aí, nem adianta vim me procurá, viu?
ROSA
– Seu horroroso. Eu é que nunca vou namorar com você! Você é um grosso! Fora
daqui!
A ROSA ATIRA UM VASO NO CRAVO.
ELE TENTA SE PROTEGER E DEIXA O VIOLÃO NO CHÃO. O CRAVO SE ESCONDE E FICA
OBSERVANDO A ROSA.
ROSA
– Esse Cravo é um insuportável! O pior é que ele não larga do meu pé! Eu vou
lhe mostrar uma coisa. Volta aqui!
ROSA VAI ATÉ O CENTRO DO PALCO
E PROCURA POR CRAVO.
ROSA
– Cravo, cadê você! Seu sem graça! Aparece. Agora!
ROSA PARA NO CENTRO DO PALCO,
OLHA E NÃO VÊ NINGUÉM.
ROSA
– Será? Será que o Cravo tem razão? Será que o Lírio não vai querer namorar
comigo? E eu vou ficar sozinha? Não! Não posso ficar sozinha! Velha, feia,
murcha e despetalada? Aí que medo! Ei, Cravo, volta aqui. Você está certo! Não
quero mais saber de esperar o Lírio. Eu aceito namorar com você!
A ROSA VOLTA A PROCURA O
CRAVO.
ROSA
– (CHOROSA) Cravo! Cravo! Cadê você?
O CRAVO SAI DO ESCONDERIJO COM
UM LENÇO SUJO DE VERMELHO AMARRADO NA CABEÇA.
CRAVO – Ai! Ai
minha cabeça! ROSA
– O que aconteceu?
CRAVO – Ocê num
alembra? O vaso que ocê jogou ni mim?
ROSA
– Desculpa, Cravo. Não queria te machucar!
CRAVO – Mas,
machucô!
ROSA
– Deixa eu ver isso!
CRAVO – Não! Ni
mim ocê nem mexe!
ROSA
– Então vamos fazer as pazes!
CRAVO – Tá bem!
Eu aceito suas desculpas!
ROSA
– Você gosta mesmo de mim?
CRAVO – Craro
que gosto! Ocê sabe que sim. Mas se ocê prefere o Lírio, ocê precisava sabê que
vai ficá véia, feia, murcha, despetalada e sozinha pra sempre!
ROSA AMEAÇA BATER NO CRAVO.
CRAVO – Ai!… Tô
vendo tudo escuro! Acho que vô desm…
O CRAVO DESABA NO CHÃO,
DESMAIADO.
ROSA
– (DESESPERADA) Ai, Desculpa! Eu não ia fazer nada em você! Socorro! Eu aceito
até namorar com você! Alguém me ajude, por favor! Será que eu matei o
Cravo? Agora que estou perdida mesmo. Vou ficar velha, feia, murcha, sozinha,
despetalada e passar o resto da minha vida na cadeia.
A ROSA CORRE PELO PALCO. O
CRAVO LEVANTA A CABEÇA E RI DO DESESPERO DA ROSA. ELA VOLTA ATÉ ELE E ELE SE
DEITA DE NOVO.
ROSA
– (CHORANDO) Cravo! Meu amigo Cravinho! Fala com a sua Rosa! Eu pensei melhor.
Eu aceito namorar com você. Me dá um sinal.
ROSA SE AJOELHA E APOIA A
CABEÇA DE CRAVO EM SEUS BRAÇOS. O CRAVO ABRE O OLHO E DÁ UM GEMIDO.
ROSA
– Cravo! Você está bem?
CRAVO – Quem é
ocê?
ROSA
– Sou eu! A sua Rosa. Lembra?
CRAVO – Que
Rosa?
ROSA
– A sua namorada!
CRAVO – Eu num
tenho namorada.
ROSA
– Agora tem! Eu aceito namorar com você!
O CRAVO DÁ UM PULO E FICA DE
PÉ.
CRAVO – Jura?
Sabia que ocê gostava de eu!
ROSA
– Não é gostava de eu! É, gostava de mim! E você não passa de um mentiroso! Eu
vou acabar com você! Onde já se viu enganar os outros. Eu toda
preocupada e você aí, fingindo! Seu grosso!
ROSA AMEAÇA BATER NO CRAVO.
CRAVO – Ai,
minha cabeça!
ROSA
– (COM RAIVA) Como você pôde fazer isso comigo? É assim que você gosta de mim?
Eu não quero mais saber de você. Nunca mais! Nem que eu fique velha, feia,
murcha, toda despetalada e sozinha!
ROSA DÁ UM EMPURRÃO NO CRAVO
ROSA
– E sai da minha frente!
ROSA SAI DE CENA FURIOSA.
CRAVO – Espera
por mim, minha belezura! Num faz assim com eu! Eu gosto de ocê de verdade! Foi
só uma brincadeira! Eu sabia que ocê gosta de eu! Eu sabia!
O CRAVO SAI ATRÁS DE ROSA.
ENQUANTO ELE SAI, TOCA A MÚSICA: O CRAVO E A ROSA.
Nenhum comentário:
Postar um comentário